quarta-feira, junho 17, 2009

O Papel do Imponderável

A clarividência não necessita ser exata. Como os sonhos, porém acordado, se vive no agora o que ainda virá, em sensações misturadas como o mosto de diversas uvas na produção de um vinho reservado especial, e em imagens rápidas como o piscar de olhos.

A clarividência me mostrou o que sabia, o que houve alguns dias depois, quando a porta se abriu e lá estava ela: olhos grandes, negros e sensuais, a boca rubra, molhada e sorridente sobre o sorriso branco e tímido, pelo reencontro. Vi os cabelos caídos sobre os ombros nus e vi a pele branca, macia, desejosa de toques suaves como ela mesma. A clarividência me mostrou silêncios, me mostrou palavras que falavam mais pelo que não diziam do que pelo que afirmavam propriamente e me mostrou o beijo.

Mas a clarividência é sujeita ao acaso. E naquele ato contínuo, já afirmado por mim de antemão, todos os elementos estavam presentes lá, quando a porta se abriu e ela disse "entra", exceto por um. A imponderabilidade, aquele que faz estarmos aqui, a cada um de nós, e não outros. Esse algo que brinca com a nossa existência e faz chegarmos ainda a tempo de pegarmos um voo fatal em um avião A330, ou nos atrasar cinco minutos, para que possamos ganhar R$ 72,00 no jogo do bicho, apostando no número 033 (cobra).

Quando a porta se abriu, eu já sabia o que fazer, mas a clarividência não me disse um detalhe. Eu era o acaso naquela hora. E por isso, em tudo o que houve em seguida, não sei se vi de antemão ou se foi apenas desejo anterior. Se soubesse isso, desvendaria um dos mistérios que consomem os homens há milânios.

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Aimery Pinot Noir, safra 2007 - Gosto bom, lembra algo como bala de framboesa, pelo leve ardor que deixa na parte de trás da língua e na pontinha. Não poderia ter escolhido vinho melhor para me queimar em paixão e, por consequência, em saudades também.

A cor do Pinot Noir, um vermelho púrpura profundo, é a mesma da boca dela, antes de eu borrar a maquiagem.

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terça-feira, junho 16, 2009

Sonhos de Bola

Quando eu for grande quero ser ainda ser menino
Correr pela glória, pela vitória, por um destino
de rei ou de diamante negro, não importa,
Quero ser como o passarinho da perna torta.

Que eu possa tocar o céu com as mãos,
Barreira final separando a vida da morte.
Quem me chamem se santo, mesmo sendo pagão.
Bola na trave goleiro! Não falha quem tem sorte.

Ser ou não ser não se faz minha questão.
Ir ou não ir, vou além e deixo o lateral no chão.
O menino dos meninos, el pibe dourado
Canhoto e latino, baixinho e alado.

E Ainda que eu seja um volante trombador,
Me corra por dois, cabeça-de-bagre e batedor,
Quero estar onde estão os titãs da bola.
Por sorte fazer gol, seja de bico, seja de sola.

Do centro à frente comando o ataque,
Quero ser o toureiro, artilheiro, matador,
Que meu povo Alvinegro cante "Carrasco do Leão"
Sou o que faz vibrar e silencia por profissão.

Não é demais querer vestir a camisa dez,
Aos quarenta e quarenta e sete do segundo tempo
Receber a bola nos pés
Fazendo dela íntima, a primeira namorada
Virando o jogo, como quem vira a vida,
De bico e bicicleta, dois a um, e fim de partida.



TIQUINHO HERÓI
Tiquinho morreu ontem. Foi um dos grandes heróis alvinegros de todos os tempos, fazendo o gol mais celebrado de todos, aquele que reafirmou a superioridade do Time do Povo sobre o bostaleza. A última vez que o vi foi no título de 2006, nas cadeiras. Vibramos juntos no gol com direito a requebra a cintura do Reinaldo Aleluia e no penalti perdido pelos arrogantes de pés sujos (Rinaldo, o fraco, chutou nas mãos de Adilson Paredão).

Há pouco acabou Ceará x São Caetano com vitória para o Mais Mais Querido. Decerto Tiquinho estava hoje no Castelão Alvinegro. Ou nas sociais tomando a sua, ou estava em campo, com a camisa 11, veloz pela esquerda, infernizando a defesa do São Caetano.

quinta-feira, junho 11, 2009

Clarividência

Já sabíamos do nosso desejo quando finalmente nos reencontramos, Camila e eu. Algumas vezes conversamos sobre como seria este momento, no qual, depois de anos desencontrados, nossos olhares se cruzariam novamente. Eis que chega a hora inevitável e Camila aparece diante de mim, com seus cabelos negros e seus ombros retilíneos, elegantes, mostram o porte nobre. Os lábios molhados, com um brilho mais sensual que Vênus ao nascer no prenúncio de alvorada.

A reação no meu corpo é imediata. A bomba de adrenalina explode e as mãos e os pés ficam gelados, o coração quase rasga suas fibras aumentando também o ritmo da minha respiração. Sorrio cristalino, me contendo, diante do meu querer. Ela me responde com um sorriso aberto de dentes amostra. Faz-se silêncio e sinto cada uma das batida que o coração, agora selvagem, dá no meu peito.

Os olhos percorrem os rostos reciprocamente sorvendo sedentos a imagem da paixão. Quando se encontram ela me diz: “Oi”. Alguém havia de dizer algo, começar falando o mais simples. Entretanto ali não se tratava de função fática. “Oi”, pronunciado tão docemente era uma máscara para “eu te esperei todo esse tempo e agora não me suporto diante de ti, me beija”. Continuo sem dizer nada, pois sabia desde antemão que tudo que dissesse era redução do meu desejo. Apenas dou dois passos à frente e aproximo a minha face da dela. Não havia mais palavras a serem ditas.

Os lábios de Camila da tocam os meus. Sentimos o cheiro um do outro e minha mente ficou turva de vez, sem metáforas. Não conseguia pensar em nada naquele momento. Beijamo-nos.

Hoje tenho a sensação de que aquele beijo foi um desses acontecimentos cheios de sentidos, que são como nascentes, revelando desde já, em si, o rio majestoso que se tornará. Algo determinante, se não na história da humanidade, na minha própria. E na de Camila.

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quinta-feira, junho 04, 2009

Grandes Dialogos, Péssimos Negócios - Resposta da Maria

Que Maria da Penha o que?
Maria da Peia é que respondeu:

"Eu também acho que pela violência as coisas não vão melhorar. Atualmente acho que a melhor forma de revolução é o boicote ao sistema. Mas um boicote REAL (comunidades alternativas, ecovilas, ocupações urbanas e de terras, e formas alternativas de economias sustentáveis).

E tem que ser organizado sim, não adianta ficar cada um no seu quadrado achando que está fazendo o que pode. Só com a união de todos e uma organização forte com planejamento e compromisso nós podemos mudar essa bosta desse mundo.

É por aí, a vida é única e é pra ser prazerosa, mas não é brincadeira não. Acho que um "meio a meio" está bom: metade frescando, metade lutando.

beijooooo"
E aqui Maria da Peia Rita disfarçada de Rosa Luxemburgo Winehouse


terça-feira, junho 02, 2009

Descaminho das Índias


A situação na Índia está tão difícil que já estão comendo até vaca

mensagem subliminar

Sei que não sou só eu que vê a lança enrolada na bandeira como uma representação do falo do diabo Lenin, não é mesmo? E o mais engraçado disso é que ela fica apontada para a direita, o que me leva a pensar que o nosso querido bolchevique tinha uma forte queda por uma asristocrata ou uma burguesinha de bons modos. Nada mais típico.

segunda-feira, junho 01, 2009

Grandes Diálogos, Péssimos Negócios

Pedro para a Jana Marruá e a Maria Ritão - agora tornado público

Não consigo me ver n'"A Grande Marcha dos Trabalhadores". Essa fantasia coletiva e coletivista que foi criada depois da Revolução Burguesa da França. Do mesmo modo, não me sinto um desses fascistinhas de colarinho e goma no cabelo que fariam qualquer coisa pra se "dar bem", seja lá o que isso signifique, esse tal se dar bem.

É que minha lógica é outra. Não é a da luta de classes, dos choques entre oprimidos e opressores. No meu mundo o que há são pessoas, essas sim são concretas. Os conflitos são micro, não grandes embates revolucionários. Os substantivos coletivos que usamos no singular pra caracterizar certos grupos tornam-se uma mentira, quando são personalizados. "O povo", "a nação", "o proletariado", "a burguesia".

Já disseram que a pessoa juridica é o melhor anteparo para as mais terríveis loucuras humanas. Uma máscara para a ganância, o desprezo pelo outro e o assassinato, seja real, seja social. Pois saibam que isso não se aplica somente às grandes corporações. Essas são personalidades juridicas formais, mas temos exemplos similares quando nos vemos como "alvinegros" versus "tricolores (bosta)"; ou "trabalhadores" versus "burgueses", etc.

Sou contra qualquer revolução que oprima e mate. Qualquer discurso que se proponha ser o "lado certo". Revolução é mudança de vida e não tomada de poder. Se faz com exemplo, no cotidiano. Consigo mesmo, enfim.

Se tem algo que é pior que o desprezo daqueles que hoje estão por cima, é o rancor dos que se sentem pisados. Basta ver o que fizeram os camponeses russos com os aristocratas, ou os judeus russos que fugiram dos gulags e campos de concentração para fundar o Israel.

Quero distância de revanchismo histórico. Quem acha bonito isso, ao meu ver, deveria fazer terapia. Descobrir de onde vem tanta raiva. As crianças mortas a mando dos bolcheviques não poderiam pagar pelo que fizeram seus avós e pais.

É que pra mim, a vida tá um pouco mais acima só desse mundo. Toda essa luta incessante me parece tão tola, tão dispendiosa e tão insignificante que só vale a pena como divertimento, como motivo para rir. É mera vaidade das vaidades. Prefiro ouvir Beethoven e AC|DC; tomar sorvete ou cerva, pensando na próxima carta de amor ou na putaria da noite passada.

Assinado: Pedro

P.S. Adorei a promoção do Habbib's que botou uma boina do Chê em cima de um kibe e o chapéu de Fidel na esfirra. Nunca uma revolução foi tão eficiente contra a fome.