Antes da Escrita
Quando falo em escassez não se trata apenas de comida e água, mas de todos os alimentos que fazem um homem ser pleno de si.
No princípio era o Verbo, que não era substantivo por não ter nome*, apenas nume. Entretanto era sujeito por já ser o que É e fez do Criar o sentido de tudo. No princípio era a Palavra e a Palavra é a criação. A palavra criou o espírito (céu) e o mundo (terra). Na segunda sentença, a Palavra define o que não É, e por conseqüência** o que não havia antes que o verbo Ser. A terra era deserta e escura sobre as faces do abismo e o vapor divino esvoaçava sobre as faces das águas.
Antes, havia o silêncio apenas. A voz do abismo onde nada tem nome, onde mesmo a Divindade não tem voz, portanto não tem nume, apenas é. E mesmo descrever isso é tentar por dentro da palma da mão o inefável ou qualquer substantivo abstrato do seu querer.
Cá estamos nós, usando da palavra novamente. Neste sábado, com um copo de vinho e e pães de queijo aqui sobre a mesa, que hoje se faz altar. E sacrifico o suor de meu rosto sorvendo essa bebida e comendo desse pão, alimentando meu espírito, pois valeu uma hora do meu esforço e do meu tempo de vida.
Então, crie-se o Céu, origem do espírito, das sutilezas, do que fala mesmo em silêncio, e crie-se o Mundo, onde vontades disputam a supremacia e a alma joga o jogo da força, da velocidade e do vigor. E que haja luz e trevas, tanto no Céu como na Terra.
*Dar o nome das coisas é poder delegado ao homem. Antes disso, nem mesmo a Divindade pronunciou seu nome. Tantos homens, tantos nomes pra Um só.
**Saudades do século XX, de Plutão como planeta, dos comunistas serem ameaça mais que piada. Saudade do rock’n’roll essa coisa de gente idosa, saudades do português-br.
***Barão d’Arignac, vin rouge de france. Não sinto saudade de sangue de bosta ou kisuco com álcool de posto, mas se puderem, vejam o programa do Belmino.