terça-feira, abril 21, 2009

Antes da Escrita

Éramos homens já nasqueles dias. Apesar de tantos pelos pelo corpo, de nossos modos grosseiros e de nossas poucas palavras, duras e secas palavras, quase tangíveis, como são as palavras daqueles que sobrevivem, nós eramos homens. Sobreviventes em um mundo de feras, forças naturais e nossa comunicação, assim como o nosso silêncio, nossas mais fundamentais armas para enfrentar estes perígos reais e aqueles que povoavam a imaginação na infância da humanidade. Sobreviventes, não fortes, como também nunca será o mais forte dos homens.

Vocês devem imaginar que viviamos em cavernas e andavamos nús. Não. Nas cavernas viviam gênios maus, demônios alados que saíam à cada morte solar, serpentes e aranhas, seres de abdome rente ao chão, além de toda sorte de bestas dotadas de presas sedentas por uma carne fácil com é a dos homens. Por isso, as cavernas eram lugares misteriosos, de uma força incompreensível como o nascer e o morrer. Medo e respeito com este lugar terrível e sagrado, pois da caverna viemos, para a caverna retornamos.

Vivíamos em cabanas e vestidos, afinal somos homens. Palha e madeira perto de fontes de água e alimentos. Não mais que isso. O bando era pequeno, mas se querem um número definido, não sei contar para dizer quantos. Também não seria de grande valia, pois sempre nascia uma criança e sempre alguém morria. Às vezes, tão logo nascia, já partia. Ou tinhamos que aliviar o sofrimento futuro do bebê em nome do bando. Quando se é sobrevivente, as regras são outras. Sempre são outras.

Naqueles dias, não havia um Deus que nos dissesse um caminho a seguir. Tudo o que se movia ou escapava ao nosso controle era uma divindade em potencial. Um rio, as estrelas e astros, as sombras das árvores, os animais - estes não enquanto indivíduos, mas enquanto um gênero e espécie. Mesmo uma pequena montanha era venerável, pelo simples fato de ser complexa e viva. De existir desde sempre e para sempre existirem, ao menos até onde nossa eternidade alcançava.

Noto que vocês vêem o sagrado como o intocável, inalcançavel. Cheio de negativas e restritivas. Devo ter dito já que naquele tempo não havia para nós um Deus que nos dissesse um caminho e consequentemente dois não-caminhos como margens. De fato, quase nada era sagrado por si, apesar de venerável, exceto nós. O bando sem nome, pois quem tinha nome eram os outros bandos. Nós simplesmente éramos.

Em nome do bando. Se escrevêssemos, esta seria a única e primeira regra. Mais que isso. Seria o começo da história. O Começo da História, assim, bonito e importante, com tudo maiúsculo. No entanto não foi, já que não precisávamos, porquanto isso se aprendia desde cedo. Como todas as leis, sentenças e determinações que futuramente foram ditas, esta regra silenciosa era também um instrumento que ao mesmo tempo ordenava e criava distinções e privilégios para uns e condições desfavoráveis para outros. Esqueça a idílica inocência humana antes da propriedade, pois se houve em algum momento, ela foi perdida antes da abundancia de grãos e reses. Provavelmente nunca vamos perder a memória inconsciente da escassez e dos efeitos dela sobre nosso corpo, do querer e não poder, e por isso vamos sempre buscar ter e poder mais. Para que nunca mais nos falte, nem mesmo quando formos outros nomes na sequencia de nossa descendência.

Quando falo em escassez não se trata apenas de comida e água, mas de todos os alimentos que fazem um homem ser pleno de si.

format - Texto de Blog

Ser jornalista de blog é fácil.

Mais fácil do que entornar um copo d'agua.

Basta escrever uma frase solta, assim

Dar 'enter' duas vezes

E escrever outra em seguida.

Nada mais, o leitor de internet não liga pra qualidade do que consome.

É como o comensal de shopping center ou de rodízios em geral.

Sendo atraente e em grande quantidade, pouco importa o gosto.

A coesão foi pro espaço, assim como conjunções e outras palavras de ligação.

A coerência então, já está morta há milânios, muito antes do primeiro periódico ser escrito.

Escrever assim, com frase soltas é bom demais.

Fica parecendo que o texto é mais do que o que é de verdade.

O pato pateta bicou o marreco e ninguém liga se faz sentido isso aqui.

Por que com frases isoladas já vem tudo mastigado para nossa ansiedade de vida instantânea.

No futuro a vida será introjetada na cabeça das pessoas.

Tudo de uma vez, todas as experiências que um ser humano pode ter.

Será o serviço mais caro que o rico dinheiro pode comprar.

Depois de um assento na nave antes dessa bola explodir.

sábado, abril 04, 2009

CANTINHO DO PARÁ

Paranaguá é o Cantinho do Pará
Só que fica no Paraná.
Quente, húmido e abafado,
Tem tanta mulher feia que até estivador
prefere virar viado.

É no litoral, mas não tem praia
É no paraná, mas não tem beldade.
Quanto azar, Paranaguá,
Serias a melhor das cidades,
Se fosses no Pará

Do cheirinho de soja podre no chão
já me acostumei
E não reclamo mais de ti.
No Brasileirinho sou o rei.
Eu sei que desgraça pouca é tiquinho,
mas não fico nem mais um minutinho.

O Rio Branco já é velho e centenário,
Quando entra em campo,
sorte tem o adversário.
Do Seleto, grande campeão,
Não há futebol profissional,
Apenas tradição.

Os turcos estão em todo lugar
Com suas narinas de tucano
Me fazem faltar o ar.
Cidade que é garimpo,
Mero ponto de passagem.
Junto minha grana
e continuo a viagem.

A Palavra e o Abismo

No princípio era o Verbo, que não era substantivo por não ter nome*, apenas nume. Entretanto era sujeito por já ser o que É e fez do Criar o sentido de tudo. No princípio era a Palavra e a Palavra é a criação. A palavra criou o espírito (céu) e o mundo (terra). Na segunda sentença, a Palavra define o que não É, e por conseqüência** o que não havia antes que o verbo Ser. A terra era deserta e escura sobre as faces do abismo e o vapor divino esvoaçava sobre as faces das águas.

Antes, havia o silêncio apenas. A voz do abismo onde nada tem nome, onde mesmo a Divindade não tem voz, portanto não tem nume, apenas é. E mesmo descrever isso é tentar por dentro da palma da mão o inefável ou qualquer substantivo abstrato do seu querer.

Cá estamos nós, usando da palavra novamente. Neste sábado, com um copo de vinho e e pães de queijo aqui sobre a mesa, que hoje se faz altar. E sacrifico o suor de meu rosto sorvendo essa bebida e comendo desse pão, alimentando meu espírito, pois valeu uma hora do meu esforço e do meu tempo de vida.

Então, crie-se o Céu, origem do espírito, das sutilezas, do que fala mesmo em silêncio, e crie-se o Mundo, onde vontades disputam a supremacia e a alma joga o jogo da força, da velocidade e do vigor. E que haja luz e trevas, tanto no Céu como na Terra.



*Dar o nome das coisas é poder delegado ao homem. Antes disso, nem mesmo a Divindade pronunciou seu nome. Tantos homens, tantos nomes pra Um só.

**Saudades do século XX, de Plutão como planeta, dos comunistas serem ameaça mais que piada. Saudade do rock’n’roll essa coisa de gente idosa, saudades do português-br.

***Barão d’Arignac, vin rouge de france. Não sinto saudade de sangue de bosta ou kisuco com álcool de posto, mas se puderem, vejam o programa do Belmino.

rascunho não publicado 1

Para cada certeza, uma dúvida

como um martelo de diamante

Pra quebrar o chão

onde iria repousar de mim

por esta noite.




A cada sim pronunciado,

um talvez sussurado

Antes fosse não

Não um fantasma

que assombra por não haver definição.




Se acha um velho,

Ri de uma possível crise da meia-idade precoce

só por esse riso cínico que parece manchar a alma

A cada vez que irrompe um afeto verdadeiro





Essa impaciência com que se machuca

Essa desconfiança com que se castra

E a máscara. As mil máscaras de mil personagens.

todos eles células da alma infinita e multipla.
havia me esquecido que tu existias....


hoje não pensei em merdas.


então vive!