sábado, maio 29, 2010

NOTAS DO CADERNO VERMELHO III

O AMOR CORTÊS - TROVA DE AMOR



Senhora do Meu Coração,
de quem carrego valiosa prenda,
É por te amar tanto
que sigo nesta senda.

Longe do teu peito,
da tua pele amendoada,
sigo mirando meu Destino
sem temer vilões na estrada.

Minha senhora bem sabe
e compreende o meu amor.
É pássaro de fogo que voa
a provar o meu valor.
Retornando ao teu castelo
restaurará o nosso elo.

Por ti, Senhora de mim,
Enfrento a todos e a tudo.
As palavras servindo de lança
no coração, cristalino escudo.
Feito do Amor Perfeito
que bem guardo e cuido.

Essa é a página que complementa o post anterior. Quando tinha 14 anos, caiu em minhas mãos um livro do Cancioneiro de D. Diniz, por influência do mestre Prof. Pitts. Eu achei uma coisinha linda, e olhe que eu nem sou muito chegado a poesia de amor (ironico).

Também acho interessante que Portugal e o Reino de Israel tenham reis poetas. Há algo de bom nisso tudo.

sexta-feira, maio 28, 2010

NOTAS DO CADERNO VERMELHO II

O AMOR CORTÊS



Pela primeira vez em minha vida encontro-me só. Não tenho ao meu lado minha pequena escudeira canina, e minha Dama deixei em minha terra. Saí para provar meu valor e honrar este Amor. Apesar disso, trago a Senhora do Meu Coração em mim. O amor que sinto por ela cristalizou-se, sendo mais brilhante e permanente que diamante.

Talvez ela o suponha pálido, já, após tantas idas e vindas. Não. Agora é que sei que a amo de verdade, para longe de minha vaidade. Se não estou com ela é para realizar façanhas que honrem nosso amor. E queira Deus que não canse, desvie a rota ou me perca, esquecendo meu brasão de família ou a Senhora com a qual sonho quando meu corpo dorme.

Como prenda, ela deu-me seu cheiro. Mais que isso, sua essência e o sabor de sua alma, carrego em meu olfato e paladar há anos.

Por baixo de minha armadura, de meu elmo que oculta meu olhar e minha expressão nesta nova jornada, minha pele ainda arde o fogo de nosso último encontro1.

No primeiro embate de valorosos cavaleiros, fui vencedor. Hoje cavalgo solitário - posição que sei lidar até certo ponto - a caminho de meu feudo. Por mais que receba boa acolhida, ou que encontre sombra e águas claras para repor as forças, sei que ainda não é chegado o epílogo desta minha aventura.

O único descanço verdadeiro será quando enlaçar meus braços e repousar minha cabeça sobre o seio de minha amada.

Este é o meu Graal.

Esta é a minha Glória de Deus.

segunda-feira, maio 17, 2010

memorando:

lembrar de transcrever o texto do éder.

segunda-feira, maio 03, 2010

NOTAS DO CADERNO VERMELHO


I
Onde finda a palavra começa o abismo.

Entre nós há olhos fechados,
Ouvidos surdos
Bocas mudas.
Há abismo...

Busco uma palavra que se faça ponte.
Uma palavra para dizer "asas".

Ainda que encontrasse,
A ponte cederia,
As asas falhariam,
Se não pudesses me dizer:
"Ouço com o coração".

II
Eu já fui velho uns anos atrás, tu bem sabes.
Já não tive esperança em nada
e muito menos vontade de sair da minha cama,
de minha rabujice.
Tu eras a jovenzinha de nós.
A pequena desejosa de amor e de prazer.

Também fui um menino.
Já quis morrer por tua causa.
E consegui.
Consegui, consegui e consegui,
Inumeras vezes morri e me renovei.
...E ainda te amava.

Agora és minha Istar de brilho contínuo.
Mesmo sob a luz do dia
ou do frio abrasante do deserto que atravessei.

Ficas a brilhar como uma benção viva
No céu de minha memória.
E bem sabes que meu tempo é arcaico.

Quando digo teu nome te trago a mim.

Quando digo o teu nome ganho asas
faço pontes sobre abismos.
E o que antes era silêncio e vapor sobre o abismo
Torna-se sentido e presença.

Glória.

Glória, ainda.

Glória, meu amor.
O Amor de Pedro.


III
Hoje fiz uma ponte e ganhei asas.
Sobrevoando o abismo vi:
No fundo há um rio que corre e não tem fim.


Agora o escrito pode vir ao mundo, ainda que discretamente. Publicado por ser inacessível a quem poderia causar algum impacto, de ciúmes ou de saudades. O resto é silêncio.

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sábado, maio 01, 2010

MOZART NO CÉU

No dia 5 de Dezembro de 1791 Wolfgang Amadeus Mozart
entrou no céu, como um artista de circo, fazendo
piruetas extraordinárias sôbre um mirabolante cavalo branco.

Os anjinhos atónitos diziam: Que foi? Que não foi?
Melodias jamais ouvidas voavam nas linhas suplementares
superiores da pauta.
Um momento se suspendeu a contemplação inefável.
A Virgem beijou-o na testa
E desde então Wolfgang Amadeus Mozart foi o mais moço dos anjos.

(Manuel Bandeira)


* * *

Eu era criança como ele foi até o fim, quando o ouvi pela primeira vez em um vinil de minha tia Carmina. Eram os concertos 21 (Elvira Madigan) e 23. Não sei dizer com que idade, mas é certo que ficamos amigos no primeiro compasso.

Naquele tempo, um disco era algo bem valioso. Na minha família, aprendiamos que o valor de uma obra é maior que o preço, criança não podia pegar num Long-Play sem supervisão de um adulto. Minha tia gostava que eu ouvisse boa música, até incentivava, mas não podia mexer no 3 em 1 sozinho.

No entanto, eu nasci canhoto. Um doce de enfant terrible. Quando Carmina saia, eu entrava sorrateiro no quarto dela com um monte de brinquedos, lápis-de-cor e papeis, e mexia no disco do outro enfant terrible. E então, os dois meninos danados brincavam um ao lado do outro. Um com o seu pianinho, cordas, flautas e metais; o outro, com cores e mais cores, bonecos e carrinhos.Vez por outra, eu parava o que estava fazendo para somente ouví-lo, e, mesmo assim, sem tocar em meus brinquedos, continuava a brincar por dentro.

Naquelas tardes, junto a Mozart, aprendi que o tempo se converte em espaço e o espaço em tempo através da música. Com meu amigo austríaco ali ao lado, toda distância de dois séculos e de milhares de Km entre Salzburg e Fortaleza se desfazia por alguns bons momentos.

Hoje, quando ouço os concertos 21 e 23, não somos mais dois, e sim três crianças arteiras. Mozart, o menino loiro de boca vermelha que fui e eu no presente, aqui escrevendo.

Quero ser como esses dois quando crescer.

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