sábado, julho 31, 2010

NOTAS DO CADERNO VERMELHO - FIM


A ÚLTIMA CARTA DE AMOR PARA G.

Agora é que foi! Fui embora e o que restou de mim se foi também para longe de você, inacessível.

Se um dia fui presente no teu cotidiano, como teu homem, hoje sou tão pouco - ou me sinto tão pequeno - que soa patético me afirmar como nada. Já não faço carinho em teu cabelo antes de dormir; não faço mais massagem em tua barriga; Não visto tua saia e pulo em ti, brincando que sou uma macaquinha doida; Não choro ao teu lado. Goles de vinho não me dão um divertido humor sincero sobre o que você é para mim. Dizer eu te amo e uma forma dão doce e engraçada era tão bom.

É em ruínas que se encontra o amor que outrora foi maior que impérios. Maior que a alma humana dos grandes humanos, por ser feita de duas almas. Talvez seja isso que pessoas de nosso tempo tanto evitam: o fim, a derrocada, a falta de brilho, o silêncio, a perda. Não, não é a morte que temo. O que mais temo, agora que estou longe, é ser esquecido e atirado ao Sheol por aqueles que amo, você inclusive.

Sei que de uns poucos, não preciso ter tal medo. Minha mãe será sempre minha mãe. Nosso amor é incondicional; Minha irmã, sempre por perto, mesmo longe; Eu serei sempre um tesouro da infância para Marininha; e meus avós, têm a vida tão longa quanto serão toda a sua descendência. São para sempre, como os avós dos avós dos avós deles.

Entretanto, você, Meu Amor, já não mora ali ao lado. Nem mesmo eu moro mais lá. Sequer sei onde moraria hoje se ainda estivesse em Fortaleza.

Fui embora de você de vez. Passei pela sua vida. Rodei e mexi com sua cabeça, adentrei seu coração, amei o teu corpo e unimos nossas almas - comunhão perfeita. Agora, onde você vê ruínas, eu enxergo ainda que já foi grandeza. Por baixo dos ruídos, oiço nossas melodias.

Mas eis que estou só.

Quando não se compartilha sentimentos e sensações, se é um estranho, ou quando não um doido. Você sabe que isso não sou.

Estranho, muito menos, se levarmos em conta como parâmetro, o reconhecimento mútuo. Eu te reconheço. És Glória. Minha, Minha Amor.

E eu, quem sou? Quem está alheio a quem?

Abençoados sejam os que sabem rir e chorar quando a vida é plena, quando nada lhes falta, quando são amados e amam.

Abençoados sejam os que sabem rir e chorar quando passa a plenitude e o momento é de esforço, quando lutam cansados, ou mesmo se cansam sem lutar.

Abençoados os que amam no silêncio, na distância e no esquecimento do desterro.

P.

Aqui morri um pouquinho mais. E me reergo, sendo quem sou, mas de outro modo.

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