quinta-feira, maio 14, 2009

O Beijo Único

O último beijo não avisou que seria.
Foi tenso como quem se afoga,
se debate em busca de ar,
Em desespero.

Antigos códigos estavam presentes:
A dança dos lábios e línguas,
O sabor daquela mistura salivar
tão conhecida, quanto esquecida.
Agora reconhecida - dejà vu.

Mãos sobre costas, pescoço, nuca, cabelos.
Hesitação em descer ao sul do corpo,
onde a sensualidade é viva e é pecado não vive-la.
"O que é pudor?
O que é respeito agora,
diante de tanta fome?
O pão da alma que parece que só ela me dá?
A comunhão pelo teu sexo".

O último beijo parecia o primeiro
e foi o primeiro de uma sequência que não houve.
Vibrou todo o meu corpo, todo o mundo, toda a existência através dos tempos,
a partir das pulsações do meu coração.

O último beijo...
Acordou esse coração moribundo que não mais sentia.
Fê-lo cantar na chuva da memória:
"I'm singing in the rain
Just singin' in the rain
What a glorious feeling
I'm happy again"
Antes de se ver caído, levado com a água, rua abaixo.

No último beijo, anjos apareceram para celebrar o Amor.
Eles sempre o fazem.
E foram, pois sabiam que aquele seria o último.
Nada nos disseram.

Beijei o último beijo como sempre havia te beijado.
Beijei o beijo único, mais uma vez,
como havia sido o primeiro,
como foram todos os beijos
de boas-noites ou de paixão sensual.
Singular como também foram
os que apenas queriam te lembrar que te amava.

Este foi o beijo único,
o único possível entre nós dois
Pela última vez.
E eu não sabia.



E pra quem não viu (sim, Hollywood ainda tem os melhores filmes jamais feitos):