quarta-feira, julho 25, 2007

Vigésimo Quinto



Desde o sêmem de meu pai até estas palavras, já se passaram 25 anos. Mais que isso. No entanto, não nasci há um quarto de século, sou de antes e serei de depois, quando 'depois' deixar de ser o jardim do vizinho e passar a ser o meu próprio - depois ainda não chegou para mim, e só me permito a suposição.

Como aquelas estrelas que já morreram, mas ainda brilham retroativamente, eu estava já por aí, dissipado, como luz, como idéia, como verdade ainda não dita brincando com uns amigos anjos que arranjei, tão divertidos quanto os de hoje. Não lembro onde de fato, só que era assim.

O sonho qualquer de um Deus autor da ópera-vida resolveu-me ser a alegria do filho caçula e do primeiro neto. O brilho nos olhos de minha irmã, que se repetiu nos meus quando minha sobrinha nasceu.

Indo além de um corpo, sou as palavras ouvidas e lidas e dadas por tios e tias, mais que as repetidas pela minha própria voz. A música ensinada e o bom gosto.

Produto da sensação de desamparo de minha avó materna ainda bebê, ao perder sua mãe, a mulher mais bela da cidade - para quem não sabe, minha avó tem uma história igual a de Cinderella, só que a madrasta não era só maldade e o príncipe era aristocrata sem reinado, numa época em que vale mais um burguês de gestos vulgares.

Sou as alegrias, o orgulho e a humildade feitosa-dias. A covardia e inteligência macambira. As desilusões e o perdão irmão da redenção ao fim, ou quem sabe ainda no segundo movimento dessa sinfonia.
Eu e esse corpo animal, que ainda não me acostumei. Que me prarece bruto de tão recheado de sensações e vontades. Olho às vezes para mim e rio, como quem ri de uma criança. Deixo que brinque, perdoando a tolice.

Não sou muito, é verdade. Tenho sido um desperdício encantador, como a lenda de uns hungaros, que sucumbiram ao destino (Quem dera, meu Deus, quem dera a beleza vencer sempre... Quem sabe em outra obra-universo, mas nessa aqui a beleza está nesse risco iminente).
Sou, não um fim em si, longe disso. Sem estar atado ao lívre-arbítrio ou sem ser somente um destino já traçado e fatalista. Eu, para além do ego e da ilusão da consciencia una e indivisivel, sou o desconhecido. Céu que se move, deitando-se e levantando-se. Eu Sou. Criação.

sexta-feira, julho 20, 2007

AOS QUE CAMINHAM DE MADRUGADA

Que horas são?

Pergunto, pois quero saber quem sou,

que tenho caminhado a noite toda por essa vastidão.

Sou nômade em minha própria vida.



Assim como eu,

aqueles que não são daqui

já sentem a mudança.

Enquanto alguns dormem e vivem o sonho

Nós atravessamos a madrugada

Acordados.



Com medo ou sem medo

de Fantasmas

Com medo ou sem medo

do Desconhecido

Com medo ou sem medo

de que seja também um Sonho

Porém, acordados.



Seguro tua mão.

Temos mãos abraçadas

muito antes de nossos olhos se cruzarem,

de nossos nomes serem pronunciados

Muito antes dessa e de muitas outras noites

-olha só como o tempo é cristalino como diamante,

como a ilusão é apenas em nossa percepção-



"Veja, são os primeiros raios da Aurora",

Ela diz

"É o dia que nasce em nós",

Ele diz

"Sim, a mudança atinge todo o cosmo",

Ela diz

"...",Ele diz

Sorrindo,

Enquanto entrelaça os dedos nos dela.



Eles sabem que algumas coisas são permanentes ao fogo eterno da mudança.








Psicografado pelo espírito Pedro M., quando este veio a terra em um raio de luz.

terça-feira, julho 17, 2007

tango para um rapaz prateado*

A cada respiro, uma lágrima é contida.
Hoje está dificil engolir a vida
Seja pelo ar, seja pelo alimento
Ou pela memória deste rapaz
em uma manhã de chuva e solidão prateada.

Quem me dera dar-lhe a voz de Gardel,
Pra que essa lembrança de si,
tão amarga, viesse à tona tangamente
como um impulso violento de beleza e melodia.
E tornasse a ser doce, pra me fazer sorrir novamente.

Ele chora à noite por saudade,
Eu retenho as lágrimas da esperança!
O Homem é feito na medida da paixão.
Essa que meus olhos vêem no futuro
e o coração dele não deixa no passado.


*Essa cantinga é pra ser dita por uma voz doce de mulher.