terça-feira, julho 26, 2005

26 de Julho

Feliz ano novo Maia a todos vocês!

E só lembrando. Ontem foi o dia fora do tempo. O dia do perdão. O dia verde. O dia que não tem mês ou semana. O último dia do ano.

Tá explicado



E como bem lembrou Millôr Fernandes, agosto vem aí...

segunda-feira, julho 25, 2005

25 de Julho

Eu sou um leão de fogo,
sem tigre consumiria
A mim mesmo eternamente,
e de nada valeria
Acontecer de eu ser gente
e gente ser outra alegria
Diferente das estrelas

domingo, julho 24, 2005

Antes de continuarmos, alguém me disse, e eu concordo, que o contrário da morte é o amor.

2.Eu-te-amo não tem empregos. Essa palavra, tanto quanto a de uma criança, não está submetida a nenhuma regra social; Pode ser uma palavra sublime, solene, frívola, pode ser uma palavra erótica, pornográfica. É uma palavra que se desloca socialmente.

Eu-te-amo não tem nuanças. Dispensa as explicações, as organizações, os graus, os escrúpulos. De uma certa forma -paradoxo exorbitante da linguagem-, dizer eu-te-amo é como se não existisse nenhum teatro da fala e é uma palavra sempre verdadeira (Não tem outro referente a não ser seu proferimento: é um performativo).

Eu-te-amo não tem distanciamento. É a palavra em díade (maternal, apaixonada); nela, nenhuma distância, nenhuma deformação vem clivar o signo; não é metáfora de nada.

Eu-te-amo não é uma frase: não transmite um sentido, mas se prende a uma situação limite: "aquele em que o sujeito está suspenso em uma ligação especular com o outro". É uma holofrase.

(Embora seja dito milhões de vezes, eu-te-amo não está no dicionário; é uma figura cuja definição não pode exceder o título.)

Trecho de Fragmentos de Um Discurso Amoroso, de Roland Barthes

terça-feira, julho 12, 2005

C.V.

Já não posso te dizer nada, nem ouvir uma canção sequer contigo. Hoje, não vamos dançar, porque não há sequer mais um abraço ou algum vestígio do calor do teu corpo.

Nessas horas em que tenho que lidar com um fim inaceitável, sinto falta de uma fantasia de Reino do Céus que cultivava quando era criança, olhando a foto do menino Jesus descalço de sandálias quebradas no colo de sua Mãe. Tenho saudades dessa esperança cega e já perdida, de que vamos nos ver novamente, mas dessa vez sem necessidades ou transitoriedade.

Entretanto, tal Reino dos Céus me parece, hoje, apenas uma maquete ou uma bela gravura que causa encantamento. Não pense que me sinto gente grande por não ter essas 'ilusões'. Acho que isso só revela o quanto sou ainda pequeno pra compreender certos aspectos de estar vivo, em especial este final.

Quando nos abraçamos da última vez, falamos generalidades. Não queria te lembrar de o quanto tua leveza era insuportável ao teu próprio corpo. Queria que aquele último abraço se estendesse por horas e que não fosse em um ambiente de trabalho, que isso é lugar de preocupações mesquinhas. Não houve sequer música.

Não consegui chorar ao te ver pela última vez. E esse choro engasgado ficou se agitando aqui dentro, fazendo minhas mãos e pernas tremerem. Meu estômago teve novamente que digerir toda a dor. E tive a percepção do que nos torna como crianças diante de nossa limitação humana. Esperei que você desse ao menos um último adeus ou um sorriso. Qualquer último aceno da vida para eu ficar tranquilo, como se fosse uma criança.

Você nem sabe, mas deixou para mim, como uma herança secreta, uma coragem maior. Apesar de toda a inconformidade por eu não mais te ver, apesar de haver um adeus que não pode mais ser ouvido, sou agradecido por ter conhecido você dentre tantos seres humanos. E por aqueles próximos em comum a nós dois também, que foram um amparo para essa dor. Ao me lembrar que elas também passarão de algum modo, é como se você sussurasse em meu ouvido: "Degusta a covivência delas, com o que há de doce e de azedo, porque é exatamente isso que dá sentido a algo tão frágil e improvável quanto a vida."

sábado, julho 09, 2005


Quando o Dirceu caiu do ministério ele disse que não tinha "vergonha de nada que tenha feito pelo presidente". É mesmo um sem-vergonha.
A queda do Lula não será nem um pouco engraçada. Ele e o PT estão pagando por seus erros, que bom! Entretanto, seria muito interessante que seus algozes tucanos e PFListas também pagassem pelos anos e anos em que estiveram sentados no trono. Os erros do molusco são os mesmos dos seus antecessores, só que ele é um mito, e como mito, a queda é mais feia.

Lula não é ingênuo e não se acompanhou de Dirceu, Delúbio e Genoíno por acaso. O fato é que ele e seus conselheiros sentaram-se em cima do carisma do líder popular e tiveram uma postura extremamente autoritária a respeito. Devem ter achado que bastava ganhar em 2002 que o resto vinha por si só, e que uma vez com o executivo, era só comprar o legislativo, como todos fizeram. Devem ter achado que poderiam fazer tudo, que agora eles seriam os donos da lei.

As eleições de 2004 foram um aviso. Marta perdeu, em POA o PT rodou. Aqui no Ceará, onde Zé Dirceu pisou, o PT foi derrotado. Luizianne foi massacrada pela executiva nacional até a vitória no 1º turno. Foi uma das coisas mais podres que vi. Malas de dinheiro devem ter circulado aqui. Malas não. Cuecas de dinheiro.

Com a volta de um tucano paulista ou mineiro vamos dar um passo atrás? Não acredito. Não demos sequer um passo a frente. E assim, o Brasil continua a ser essa grande putaria. Queria rir ou ficar indiferente, mas não consigo.

Façam suas apostas!

Enquanto tempo a Veja derruba Lula?
a. Uma Semana
b. Um Mês
c. Seis Meses
d. Não será candidato
e. O povo tira ele em 01/10/2006

quarta-feira, julho 06, 2005

O Garoto do Porão

O que aconteceu enfim com Garoto do Porão? O seu blog ainda está lá, no endereço http://garotodoporao.blogspot.com e pode ser visto como a carta deixada por ele antes do sumiço. Pode ser que ele tenha se trancado em seu porão e ainda esteja lá dentro, ou que tenha morrido e ninguém deu pela falta dele, porque seu cadaver não apodreceu.
Outro dia estava conversando com uma amiga. Acho que o Garoto do Porão simplesmente abriu a porta e saiu. Hoje ele está por aí, mas não é mais do porão. Talvez não seja mais garoto também.
Espero que antes que ele tenha deixado o porão, ele tenha levado suas pequenas vitórias e seus tesouros que não fazem muito sentido para a maioria das pessoas, mas que para ele são preciosos. Os dias que fizeram ele dormir sorrindo, ou acordar chorando e principalmente aqueles momentos em que ninguém estava lá para ver. Aqueles dias onde, sozinho tal qual animal dentro da concha, foi possível fazer a aurora e criar sonhos vivos e concretos.
Foi isso, Alê
* Escrito ao som de Velvet Underground - Run Run Run e Iggy Pop - Main Street Eyes (esta dedicada ao Garoto do Porão ou o que ele for hoje)
Havia quase esquecido como são traquilas as manhãs do Joaquim Távora
O homem sem um braço da banca de cigarros
As empregadas indo comprar o tempero do almoço
A boa conversa com o Arnaldo sobre o nosso Ceará que venceu ontem
O céu azul te chamando pra ir à praia
Os muros brancos que ofuscam a vista
Pouca gente nas ruas... poucos carros também
Senhores e senhoras de respeito com até três poodles
No som Syd, e a história daquele gnomo
E eu caminhando no meu tempo, sem a menor pressa.

Religare!

Esse mundo foi criado por uma divindade que não crê em Jesus Cristo ou no perdão. No Máximo, esse deusinho admira. Acho até que os próprios cristãos já esqueceram que o perdão é maior que a culpa... eu mesmo devo ter esquecido, pela minha benta formação católica de mierda... Meu estômago se sente culpado por adão e por mim.
Fui a praia um dia desses. Ver o sol se por e o dia morrer nas dunas. Comigo, Ronaldo et al. perambulando pelas areias da Praia do Futuro, e o mar, e a conversa sobre qualquer bobagem. Na volta vi um bando de cristãos de uma dessas igrejas onde o pequeno-Deus é segunda preocupação. Todos de camisas azuis, como uniformes de um time de rugbi do seculo XIX. Garanto que nenhum pecava... pra falar a verdade até sabiam que o caminho do céu passava pela eliminação de uns infiéis (nem que fosse pela conversão).
Eu era um infiel, mas não quero que eles morram... porque infelizmente não consigo ser um bendito ateu.

domingo, julho 03, 2005

Que nossas palavras nunca se esvaziem de sentido.

sábado, julho 02, 2005

Vale Tudo


Quando o Rod Stewart veio tocar em um reveillon em Copacabana, o Tim Maia foi mostrar as coisas para ele. Depois do show, o gringo disse a Tim:
-Poxa vida, não acredito que dois milhões de pessoas vieram aqui só pra me ver.
-Não. Dois milhões de pessoas estavam na praia e por acaso algumas viram você tocando - Disse o Síndico, tratando logo de botar ordem na casa.
Quando a última grande bosta da música brasileira são os bunda-limpas do Loser Manos ou da Vanessa da Matta (isso quando se fala em "bom gosto"), é que a gente sente falta de caras como o Tim Maia.

Dark Globe (Wouldn't you miss me) - Syd Barret

Oh where are you now
pussy willow that smiled on this leaf?
When I was alone you promised the stone from your heart
my head kissed the ground
I was half the way down, treading the sand
please, please, lift a hand
I'm only a person whose armbands beat
on his hands, hang tall
won't you miss me?
Wouldn't you miss me at all?

The poppy birds way
swing twigs coffee brands around
brandish her wand with a feathery tongue
my head kissed the ground
I was half the way down, treading the sand
please, please, please lift the hand
I'm only a person with eskimo chain
I tattooed my brain all the way...
Won't you miss me?
Wouldn't you miss me at all?

Gilmour

Por mais que o rock progressivo seja um saco total; que os caras do Yes, Emerson Lake & Palmer e Rush tenham nascido todos com mais de 30 anos e se levando muito a sério, ninguém, nem mesmo o Saulo Raphael, pode desqualificar o David Gilmour, do Pink Floyd. É obvio que hoje a banda é só uma foto amarelada de algo que já foi loucamente genial (quando tinha o Syd Barret) e excessivamente criativa(quando o Roger Waters estava), mas e daí? Eu ainda quero ver um show deles.

Ontem estava no aniversário ("níver" o KCT. detesto essa abreviação) do Pablo Gordo e após meia garrafa de whisky e onze cervejas com o Aírton e o Éder fomos olhar o que havia de bom nos VCDs. Tinha o Tim Maia, que mesmo quase pra morrer ainda conseguia fazer a galera soltar a franga, mas o som estava baixo. Só nos restou o Pulse. Era isso ou Bruno & Marrone. Não sei se foi o whisky, mas ficamos nós três estáticos em frente a TV, assim como o público no show também estava.

Keeping Back to Life é uma musica secundária já da fase decadente (sim, decadente. Depois do Piper, do Dark Side e do Wall, impossivel não o sê-lo) do The Division Bell. É tão bonita quanto uma equação de geometria analítica de tão certinha e fria que é. Mas quem disse que uma equação não pode ser linda?

Como disse o Airton: "Esse cara -o Gilmour- era modelo antes de ser músico. Hoje ele ainda é bonito, mas de outra forma". Também acho. E digo mais: já pensou o The Wall sem o solo de Confortably Numb? É a melhor parte da melhor música.

Ver o Pulse me lembrou que tenho que ver um certo poster.

Ouvindo Wouldn't You Miss Me? - Syd Barret solo, do album Madcap Laughs