NOTAS DO CADERNO VERMELHO
I
Onde finda a palavra começa o abismo.
Entre nós há olhos fechados,
Ouvidos surdos
Bocas mudas.
Há abismo...
Busco uma palavra que se faça ponte.
Uma palavra para dizer "asas".
Ainda que encontrasse,
A ponte cederia,
As asas falhariam,
Se não pudesses me dizer:
"Ouço com o coração".
II
Eu já fui velho uns anos atrás, tu bem sabes.
Já não tive esperança em nada
e muito menos vontade de sair da minha cama,
de minha rabujice.
Tu eras a jovenzinha de nós.
A pequena desejosa de amor e de prazer.
Também fui um menino.
Já quis morrer por tua causa.
E consegui.
Consegui, consegui e consegui,
Inumeras vezes morri e me renovei.
...E ainda te amava.
Agora és minha Istar de brilho contínuo.
Mesmo sob a luz do dia
ou do frio abrasante do deserto que atravessei.
Ficas a brilhar como uma benção viva
No céu de minha memória.
E bem sabes que meu tempo é arcaico.
Quando digo teu nome te trago a mim.
Quando digo o teu nome ganho asas
faço pontes sobre abismos.
E o que antes era silêncio e vapor sobre o abismo
Torna-se sentido e presença.
Glória.
Glória, ainda.
Glória, meu amor.
O Amor de Pedro.
III
Hoje fiz uma ponte e ganhei asas.
Sobrevoando o abismo vi:
No fundo há um rio que corre e não tem fim.
Agora o escrito pode vir ao mundo, ainda que discretamente. Publicado por ser inacessível a quem poderia causar algum impacto, de ciúmes ou de saudades. O resto é silêncio.
Marcadores: GLÓRIA
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial