segunda-feira, maio 03, 2010

NOTAS DO CADERNO VERMELHO


I
Onde finda a palavra começa o abismo.

Entre nós há olhos fechados,
Ouvidos surdos
Bocas mudas.
Há abismo...

Busco uma palavra que se faça ponte.
Uma palavra para dizer "asas".

Ainda que encontrasse,
A ponte cederia,
As asas falhariam,
Se não pudesses me dizer:
"Ouço com o coração".

II
Eu já fui velho uns anos atrás, tu bem sabes.
Já não tive esperança em nada
e muito menos vontade de sair da minha cama,
de minha rabujice.
Tu eras a jovenzinha de nós.
A pequena desejosa de amor e de prazer.

Também fui um menino.
Já quis morrer por tua causa.
E consegui.
Consegui, consegui e consegui,
Inumeras vezes morri e me renovei.
...E ainda te amava.

Agora és minha Istar de brilho contínuo.
Mesmo sob a luz do dia
ou do frio abrasante do deserto que atravessei.

Ficas a brilhar como uma benção viva
No céu de minha memória.
E bem sabes que meu tempo é arcaico.

Quando digo teu nome te trago a mim.

Quando digo o teu nome ganho asas
faço pontes sobre abismos.
E o que antes era silêncio e vapor sobre o abismo
Torna-se sentido e presença.

Glória.

Glória, ainda.

Glória, meu amor.
O Amor de Pedro.


III
Hoje fiz uma ponte e ganhei asas.
Sobrevoando o abismo vi:
No fundo há um rio que corre e não tem fim.


Agora o escrito pode vir ao mundo, ainda que discretamente. Publicado por ser inacessível a quem poderia causar algum impacto, de ciúmes ou de saudades. O resto é silêncio.

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