quinta-feira, julho 30, 2009

Meu aniversário passou e eu fingi que não vi...

Mas uns dias depois escrevi pra ele assim:

Quem quis que fosse no dia do sol, sob o signo do sol que me houvesse nascer?
Sétimo mês, vigésimo quinto dia, mil nove e centos e oitenta e dois.
Quem me quis que somados houvesse sete. Quem me quis que nome e sobrenome fosse catorze. Quem me quis o número sete, como são os astros vistos da terra, ou a semana lunar.
Quem me quis o sétimo filho do patriarca, não diretamente, mas por ser afilhado. Eis que o velho já é o sétimo, há setenta e nove anos.

Naqueles dias o sol acompanhava o leão e subia no leste o cordeiro. Quem me quer predador e presa?

Quem me fez forte pra ser vítima de holocausto em um destino misterioso construído a cada minuto (e como são misterioros os destinos).

De fato, tenho me sentido só há tempos, já sem memória. Como se o mundo estivesse por ser feito; e está, sendo obra perfeita que não se completa.

Eis que eu peco, pois sete são os pecados. Eu erro e cedo a mim mesmo, no que há de mais vil no homem. E de tantos vícios, virtudes e vazios, descobri que não se arranca por completo as flores, os espinhos e sequer as ervas daninhas do nossos quintais.

Estou fora do tempo e nada mais justo que caminhar minha existência sobre essa época de indefinições, a tal hipermodernidade, onde os homens sofrem em fuga da dor e em busca do prazer urgente. Eu não haveria de ser em tempos de certezas encrustradas como cracas no casco de um navio à deriva, mas, no qual a tripulação finge ainda navegar com destino certo.

Do espaço, não guardo saudades. Não sou parte dos vermelhos do deserto, nômades sem lei e sem caminho, habitando em face dos irmãos. Caminho, isso sim, com os dois pés da causalidade e da casualidade. Tenho pressa de chegar somente onde o Caminho me leva.

Canhoto com as palavras, destro com as pedras. Ambidestro para o Amor e a Indiferênça.

Não sei quantas almas moram na minha alma, ou o tamanho disso tudo. Suspeito que eu seja pequeno. Infinitamente ínfimo. Ínfimo e denso. Denso como estava o ponto primeiro antes do relógio universal começar a contar o tempo de agora.

Me quero honrado.

quarta-feira, julho 29, 2009

TEXTOS DA PRÉ-HISTÓRIA

NÁIADE - A Moça N’água

Deixa te contar um segredinho

Em voz baixa, perto do ouvido:


Momentos antes da existência

O sopro divino dançava sobre as águas.

O movimento era tão belo e vibrante que se fez som,

Que se fez música

E depois palavra,

Que disse: ‘que a Luz seja!’

Segundos de Eternidade depois e estou aqui.

Para dizer que vi,

Deslizante como se estivesse antes da Palavra Primordial,

Teus gestos prateados sobre a superfície da água,

Em dança com o sopro divino.

Vi, e em mim se fez música.

E agora palavra.

Dizem que a alma se revela em gestos

E os teus são leves que me percebo falando calado:

“Eis a Insustentável Leveza do Ser,

Eco e arquétipo da própria criação”

E rio,

Da mais água clara,

Fluindo no tempo da delicadeza.